artistic direction and programming:
SÉRGIO AZEVEDO
curator:
SOFIA MOURATO
artists:
JASON BERNAGOZZI · STEVE CARRICK · JOÃO PEDRO FONSECA
MARCANTONIO LUNARDI
MARCANTONIO LUNARDI
open talks:
CARLA CABANAS · MAGMA COLLECTIVE · FUNDO DE ARQUITECTURA SOCIAL
ARQUITETURAS FILM FESTIVAL
ARQUITETURAS FILM FESTIVAL
SOFIA MOURATO
O ser humano existe, vive e transforma-se no mundo em que habita.
A cidade envolve-nos mas caminhamos cada vez mais distantes da sua memória. O desenvolvimento, desde os anos 90 de políticas de esquecimento, construções urbanísticas desajustadas e tematização do espaço publico resultou num complexo paradoxo – Por um lado o sistema produtivo reforça mecanismos de apagamento e substituição da memoria colectiva mas por outro os movimentos sociais reivindicam a diversidade das memorias existentes de cada cidade. Este processo de eliminação da memória real pela memória temática desenvolve uma realidade ficcional na qual as novas tecnologias são também elas paradoxais – proporcionam uma maior facilidade de comunicação com o intuito de impor novas memórias e ao mesmo tempo promovem a capacidade social de resistência e conhecimento dos testemunhos que se querem apagar. O projecto Mundos Alternativos procura investigar a resistência da memória das cidades, dos edifícios e das pessoas. Através das imagens coleccionadas, editadas e ficcionadas o artista constrói e expõe uma cidade alternativa, utópica, pessoal e colectiva. |
The human being exists, lives and transforms itself in the world that inhabits.
The city surrounds us, but we walk increasingly distant from its memory. Since the 90s, the development of oblivion policies, the misfit urban constructions and the theming of public space resulted in a complex paradox – on the one hand the production system reinforces erasure and substitution mechanisms of collective memory, on the other hand social movements claim the diversity of existing memories in each city. The elimination process of real memory for thematic memory develops a fictional reality in which new technologies are also paradoxical. This provides greater ease of communication in order to impose new memories and at the same time promotes social ability of resistance and knowledge of witnesses that tend to erase. |
SÉRGIO AZEVEDO
A exposição Mundos Alternativos, protagonizada pela arte-vídeo, surge como a primeira edição do Plano Lisboa, após um ano de maturação enquanto jovem projeto experimental que procura estabelecer-se na cidade que lhe dá nome.
Assim, em 2015 a estrutura que vive o seu segundo ano de atividade experimental apresenta-se à cidade com um evento-piloto, que esta organização para a arte contemporânea espera ver revelar-se motivador do desenvolvimento dos próximos anos de programação. Este projeto toma a forma de uma intervenção que ocupa a rua Poço dos Negros em Lisboa - um local de passagem e não de estadia tal como hoje podemos confirmar - onde novos empreendedores ligados ao design, arquitetura e indústrias culturais, espaços de co-work e lojas de conceitos renovados se vão instalando aos poucos, convivendo com os antigos estabelecimentos comerciais que resistem às dificuldades de manter um negócio tradicional nos tempos dos novos grandes centros comerciais e da desertificação das zonas habitacionais do centro histórico da cidade de Lisboa. Este evento de um mês que constitui, no fundo, a primeira edição do Plano Lisboa nesta sua nova fase de crescimento, tem na sua origem a vontade de criar momentos de arte gratuitos, oferecidos à cidade ao longo de um período de tempo considerável, tentando não se parecer com mais um fugaz evento urbano de experimentações estéticas, mas antes procurando um modelo de intervenção capaz de reunir diversas entidades e pessoas em torno de um mesmo projeto de criação e de produção cultural que permita envolver o público num momento de reflexão acerca da condição do espaço urbano, da sua transformação, preservação e reabilitação consciente. O papel ativo e a participação na construção das nossas cidades deve ser um fator primordial no que toca ao desenvolvimento económico e social promovendo a valorização do território urbano. Deste modo, os objetivos do Plano em defender a transferência do local do acontecimento de arte para a realidade vivida e da população que habita o espaço comum da cidade, espera ver-se cumprido, através de uma iniciativa que se prolonga desde a obra individual do artista até à participação ativa da sociedade, para uma melhor compreensão dos conteúdos artísticos explorados a partir das problemáticas identificadas à priori. |
A proposta inicial foi entregue à curadora da exposição Sofia Mourato, a partir de um diagnóstico preliminar à zona Poço dos Negros que a apontou como uma área de Lisboa em transformação e de elevado potencial para o desenvolvimento da cidade enquanto pólo cultural sinergético.
Esta zona é então uma pequena artéria que faz a transição entre dois pólos urbanos nobres - os pontos de encontro noturnos do Bairro Alto de um lado e de Santos o Velho do outro, sendo estas duas áreas relevantes da cidade também no que toca a dinâmicas sociais e comerciais. Questão complementar e aliciante é o facto de esta ser ainda uma zona que se encontra em processo interno de transição: de um contexto de degradação e de morte - quer pela não-renovação da população envelhecida quer pela quase extinta atividade comercial local - em direção a um ambiente unificado e ativamente transformador de um espaço que se pretende da responsabilidade de todos os que o habitam e o conhecem, mostrando que é possível fortificar a qualidade das áreas urbanas do ponto de vista social, bem como da sua oferta cultural, comercial e habitacional. Coadunando-se com o funcionamento da cidade e os seus fluxos tardios, esta exposição de arte-video foi pensada, desde a sua ideia inicial, para acontecer em horários noturnos, criando um diferenciado impacto na vida urbana lisboeta e novas experiências de contacto com a obra de arte. Deste modo, os objetivos da proposta inicial da direção artística do Plano Lisboa, foram a de criar um projeto expositivo de arte contemporânea que se libertasse das convenções dos espaços de programação cultural para acederem ao espaço da vida urbana, de forma a criar novas formulações de sentido e, ainda, o acesso a novos públicos - tão importantes para que toda a produção artística tenha de facto sentido. |